Expedição ao Jalapão confirma previsões quanto endemismo e necessidade de conservação

A primeira semana da Expedição Científica e Conservacionista Gilvandro Simas Pereira ao Jalapão, no leste de Tocantins, confirmou as expectativas dos pesquisadores quanto à existência de espécies endêmicas e quanto à necessidade de ações visando a impedir o impacto do antropismo na região.

A primeira nova espécie identificada na região é uma planta da família das Vochysiaceae. Dois pequenos roedores e um morcego insetívoro, capturados nos primeiros dias de trabalho, podem aumentar a lista de espécies até então não catalogadas.

Os animais, desconhecidos para os biólogos que compõem a equipe, serão estudados em laboratórios para confirmação, ou não, do endemismo da espécie.

Isolado do restante do país devido à dificuldade de acesso, o Jalapão resistiu durante muito tempo à ação do homem. Entretanto, nos últimos três anos, a constatação do potencial turístico da região e a aproximação da fronteira agrícola passaram a afetar o equilíbrio do ecossistema.

Segundo o arquiteto do Ibama, Miguel von Behr, coordenador geral da expedição, algumas das principais atrações naturais da região já começam a sofrer os efeitos negativos do turismo desordenado. “Os participantes dos rallys escalam as dunas de carros e motos. No fervedouro (nascente de água), duas voçorocas ameaçam acabar com a lagoa”, exemplifica.

O fogo é outro grave fator de degradação ambiental no Jalapão. “A maioria dos incêndios na região começa como queimada agrícola”, afirma Paulo Cesar Mendes Ramos, coordenador Nacional do Prevfogo, participante do evento. A população utiliza as queimadas como forma de recuperar as áreas de pastoreio, eliminar pragas e plantas daninhas e ainda para agregar nutrientes ao solo, oriundos do material vegetal incinerado.

Num primeiro momento, a pastagem rebrotada surge com mais força e melhor aparência do que a anterior. Mas, ao longo dos anos, essa prática degrada física e quimicamente o solo. Tentando ordenar essa prática, técnicos do Prevfogo já agendaram para os próximos dias 19, 20 e 21, cursos de queima controlada e de formação de brigadas de incêndios com agricultores da região.

O antropismo promovido pela agricultura, pelas queimadas, pelo ecoturismo e pelos rallys – o Jalapão está na rota do Rally dos Sertões, o mais concorrido da categoria no país – é apontado como o maior problema da região. “A composição arenosa do solo associada à degradação do meio ambiente pode transformar o Jalapão num grande deserto.

Algo semelhante ao que aconteceu na região de Gilbués, no Piauí, com características similares e que foi desertificada pela mineração e pela agricultura”, analisa Moacir Bueno Arruda, coordenador do Decoe – Departamento de Conservação de Ecossistemas do Ibama e organizador da expedição.

De acordo com Moacir, o ecossistema do Jalapão é muito frágil e necessita de ações urgentes para que sua sustentabilidade seja mantida. “É mais fácil e mais econômico prevenir”, comenta ele. A recuperação de solos arenosos é difícil. Cálculos do Ibama revelam que o custo disso está em torno de US$ 10 mil por hectare.

A falta de informações sobre a região foi ponto determinante para que o grupo de estudos de prioridade para conservação do Cerrado, estabelecido em 1998, apontasse o Jalapão como área a ser pesquisada. A idéia da expedição científica nasceu ali.

Os dados agora coletados subsidiarão a formação do Corredor Ecológico do Jalapão que, como informa Moacir, já está delimitado ocupando uma área de 3,5 milhões de hectares. Nos limites do corredor estarão as três Áreas de Proteção Ambiental (Apa) já existentes – uma federal, uma estadual e outra municipal -, o Parque Estadual do Jalapão, recém criado pelo governo de Tocantins, e o Parque Ecológico do Jalapão, em fase de definição pelo Ibama e que deve ser anunciando em breve.

O Corredor Ecológico do Jalapão estará interligado ao Corredor Paraná/Pirineus permitindo um fluxo genético às espécies.

Os recursos para o desenvolvimento dos projetos no Jalapão constam do Plano Plurianual do Governo Federal (PPA), que deve liberar R$ 210 mil até 2002. Além disso, o MMA – Ministério do Meio Ambiente deve repassar parte dos US$ 10 milhões que o Fundo Mundial para o Meio Ambiente (GEF – Global Enviromente Facility) disponibilizou para a realização de projetos de conservação de biodiversidade no Cerrado.

Outro parceiro é a Conservation International, organização ambiental internacional com sede em Washington (EUA), representada em 25 países.

Fonte: Agência Brasil

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